Encontro 14 - Designer faz tudo: Quando a versatilidade vira armadilha
- Paulo Henrique

- 19 de out.
- 4 min de leitura
Um croquete voltado para reflexões sobre: exigências do mercado; sobrecarga; superficialidade e propósito.
No dia 25 de setembro de 2025, pude participar da 14º edição do Design Croquete, um evento massa que é idealizado pela Ana Isis Moura e que a proposta é reunir a galera de design de região para debater sobre os mais variados temas relevantes para a comunidade. Essa edição rolou lá no Cold Foca, um barzinho super legal localizado no bairro das Graças em Recife/PE.
O tema desse encontro foi sobre Designer faz tudo: Quando a versatilidade vira armadilha. Em que a proposta foi conversamos sobre o quanto o mercado valoriza um perfil de designer mais generalista e sobre os impactos que essa cultura pode nos causar, como: sobrecarga, superficialidade e falta de propósito na carreira. E sobre os riscos para nossas carreiras podendo trazer prejuízos.
Rodas de Conversa
Como em todo Design Croquete, acontecem as rodas de conversas e essa rodas são guiadas por algumas perguntas, dessa vez as perguntas foram:
No dia a dia, como vocês percebem a atuação em múltiplas frentes (UI, UX, Research, Motion, IA…). Como oportunidade de crescimento, exigência do mercado ou algum outro ponto?
Essa versatilidade já trouxe insegurança, síndrome do impostor ou a sensação de ser um “designer pato” (que faz de tudo mas não se aprofunda em nada)? Como vocês lidam com isso?
Diante de um mercado que valoriza generalistas, quais estratégias vocês usam para não cair na superficialidade? E como esse posicionamento se reflete quando estão em entrevistas ou ao falar de si profissionalmente?
Como vocês cultivam curiosidade e aprendem novas habilidades sem se sobrecarregar? E olhando para o futuro (curto, médio e longo prazo), como escolhem em quais habilidades investir e se veem atuando?
A síndrome do impostor e o “designer pato”
A síndrome do impostor apareceu com força, junto da figura do “designer pato”: aquele que faz de tudo e se cobra excelência em tudo. Em um cenário de rótulos instáveis (UX Research, UI, Dev, Product Designer), os títulos mudam e os escopos se expandem.
Ainda assim, houve consenso: a multifuncionalidade se torna potência quando existe um ambiente seguro para aprender, testar, errar e consolidar habilidades.
Um relato chamou atenção: alguém foi julgado por ter “cursos demais”. A virada veio ao mostrar que cada especialização trouxe camadas e ampliou o repertório. Para quem está migrando, porém, a cobrança por ser um “generalista pronto” pode fechar portas. Entre os caminhos possíveis surgiram: recortar escopo, apostar em projetos de baixo risco para fortalecer o portfólio e buscar mentorias reais.
O mercado ainda não sabe o que fazer com o designer
Outra discussão recorrente foi a dificuldade das empresas em entender o papel do designer. Não é raro encontrar vagas de UX/UI Designer ou Product Designer que, na prática, misturam requisitos de UX, design gráfico, mídias sociais, publicidade e até marketing.
O problema se agrava em cargos de UI Designer, já que muitas vezes são confundidos com design gráfico — o que faz com que entregas gráficas tenham mais peso do que o esperado. Esse desalinhamento gera frustração e reforça a percepção de que o mercado não sabe exatamente como posicionar o trabalho do designer.
Generalista ou especialista? Depende do momento da carreira
Por ser uma disciplina ampla, o design exige diferentes posturas ao longo da jornada. Designers juniores compartilharam que gostam do perfil generalista porque ainda estão explorando a área. Já profissionais seniores afirmaram que, com o tempo, descobriram o que não gostam e hoje tentam moldar a carreira para fugir dessas tarefas — sempre atentos ao que o mercado demanda.
O tema da Inteligência Artificial também entrou na pauta: há curiosidade e até entusiasmo, mas também medo. Para muitos, trata-se de mais uma onda como já aconteceu com ferramentas de prototipação (Sketch, Adobe XD, Figma). Ferramentas passam, mas o conhecimento acumulado permanece como diferencial.
O receio (e a importância) de se posicionar
Um ponto delicado foi o medo de dizer não. No ambiente corporativo, muitos assumem tarefas extras para evitar represálias ou para “mostrar serviço”. Esse comportamento, no entanto, pode ser perigoso: reforça para líderes e empresas a ideia de que o designer está sempre disponível, o que gera sobrecarga.
No contraponto, também se discutiu a importância de saber se posicionar e negar demandas que fogem das atribuições combinadas. Se algo não condiz com o escopo acordado, cabe ao designer levantar a mão. Foi lembrado, por exemplo, o período em que o mercado tentava impor que designers aprendessem programação como diferencial. Posicionar-se nesses momentos é fundamental para evitar frustrações futuras.
Diversidade de experiências e autenticidade
Alguns participantes autistas compartilharam as dificuldades de atuar em ambientes rígidos em relação a horário e produtividade. Uma frase marcou a roda:
“A empresa diz para eu fazer do meu jeito, com a minha autenticidade, desde que eu faça igual a todo mundo.”
O relato trouxe à tona a necessidade de ambientes realmente inclusivos, que respeitem ritmos e formas de trabalho diversas.
Curiosidade como estratégia de longo prazo
Seja generalista ou especialista, um ponto ficou claro: a curiosidade é motor de desenvolvimento. Quando incentivada pela empresa, floresce em experimentação; quando não, encontra sustentação na comunidade ou no estudo por conta própria.
No fim, prevaleceu a ideia de que carreira se constrói em camadas — uma habilidade de cada vez. Generalismo é força quando não vira dispersão, enquanto especialização é opção estratégica para se aprofundar. O que sustenta ambas as escolhas é um ambiente seguro, narrativas profissionais honestas e clareza sobre o caminho que cada um deseja construir.
Conclusão
O encontro mostrou que, em um mercado cada vez mais generalista, existem quatro principais motivações para aprender: medo de novas ferramentas, pressão do mercado, incentivo da empresa e pura curiosidade.
Porém, em times menores, designers passaram a acumular funções, e profissionais de menor senioridade muitas vezes são cobrados além do escopo sob o argumento de “planejamento de carreira” — sem opção de escolha. O resultado é um cenário de burnout, expectativas desalinhadas e aprendizado sem rede de apoio.
Entre dilemas e descobertas, a mensagem que ficou foi clara: ser designer hoje significa equilibrar o que gostamos de fazer com o que o mercado valoriza — sem perder de vista a nossa saúde, nossos limites e a autenticidade da nossa prática.


Quero um quadrinho com a frase "Generalismo é força quando não vira dispersão" para colocar no escritório.